Entrevista com Odir Cunha

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Odir Cunha: Um Pioneiro na História Digital do Santos FC

Odir Cunha foi um dos pioneiros no formato de blog em estilo de revista digital. Por meio de seu espaço, ele conseguiu reunir santistas do Brasil e do mundo em torno de uma única paixão: o Santos Futebol Clube.

Formado em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado, em São Paulo, Odir é um paulistano nascido na Vila Maria. Vencedor de dois prêmios Esso — a principal premiação do jornalismo brasileiro —, atuou como redator, repórter e editor no Jornal da Tarde, além de comentarista de tênis na TV Record.

É autor de diversos livros, muitos deles dedicados às grandes paixões da sua vida: o tênis, o futebol e, claro, o Santos FC.

Em 2009, Odir foi nomeado pelo então presidente Marcelo Teixeira como coordenador das festividades do Centenário do Santos Futebol Clube, comemorado em 2012.

Também atuou como curador do Museu Pelé e, entre 2018 e 2020, foi coordenador de História e Cultura do Santos FC, durante a gestão do presidente José Carlos Peres.

A convite de seis grandes clubes brasileiros — Palmeiras, Cruzeiro, Santos, Botafogo, Fluminense e Bahia —, Odir Cunha, ao lado de José Carlos Peres, pesquisou e publicou o Dossiê pela Unificação dos Títulos Brasileiros a partir de 1959.

O documento buscava a oficialização, por parte da CBF, dos títulos nacionais conquistados entre 1959 e 1970 — Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa/Taça de Prata — como edições legítimas do Campeonato Brasileiro.

No ano seguinte, o dossiê foi aprovado pela CBF, e os vencedores da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa passaram a ser oficialmente reconhecidos como campeões brasileiros.

É inegável a contribuição de Odir Cunha para a valorização das artes, do jornalismo e da presença dos santistas na mídia, especialmente no ambiente digital. Seu legado abriu caminhos para que muitos torcedores dediquem seu tempo e talento como criadores de conteúdo sobre o Santos FC.

Aproveite este momento para mergulhar no passado, conhecer histórias e desvendar os segredos desse personagem tão especial na trajetória cultural do nosso amado clube.

Com vocês, Odir Cunha:

Livro-Zito,-o-Lider-Essencial
Livro-Zito,-o-Lider-Essencial

1 – Por que resolveu ser jornalista e escritor?


Logo que aprendi a ler, me apaixonei por gibis e depois por livros. Aos 16 anos já tinha lido uns 400 livros. Como eu tinha centenas de gibis e um sebo do bairro (Cidade Dutra) aceitava três, quatro gibis, por um livro, fui lendo Monteiro Lobato, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Edgar Rice Burroughs… e decidi que gostaria de viver como escritor caso não desse certo como jogador de futebol, o que mais eu gostava. Mas como escritor é o último estágio de quem escreve, primeiro fiz o curso superior e me formei jornalista.  

2° – Além do futebol sabemos que você também é um amante do tênis. Como o tênis surgiu na sua vida?


O tênis surgiu em 1971, ao ver um jogo transmitido pela TV Cultura entre o brasileiro Thomaz Koch e o chileno Patrício Cornejo, pela Copa Davis, que Koch venceu no quinto set. Eu já tinha esquecido o sonho de querer ser jogador de futebol depois de quebrar a perna duas vezes, aos 14 e aos 15 anos, e ouvir do médico que eu deveria escolher um esporte menos violento. Em 1974 comprei raquete, uniforme e comecei a jogar em um centro da prefeitura no Ibirapuera. Virei jornalista especializado em tênis em jornais, revistas, rádios e tevês. Também já escrevi quatro livros sobre tênis.

3° – Agora no futebol, conte-nos quando e como começou sua paixão pelo Santos FC.

 A paixão começou por causa de um tio, o Everaldo, que nós chamávamos de Verinho. Ele me fez virar santista em um dia em que o Santos goleou o Corinthians por 6 a 1, na Vila Belmiro. Eu tinha só seis anos e nunca tinha assistido a um jogo de futebol. Este nós vimos pela tevê da casa da minha avó, na Ponte Rasa. Pelé acho que fez três ou quatro gols naquele dia.

4° – Entre tantas obras maravilhosas, como: O Dossiê – Unificação dos Títulos Brasileiros a Partir de 1959; Santos FC – 100 Anos de Futebol Arte; Time dos Sonhos; O Grande Jogo; Zito – O líder essencial; Maria – A vitória da arte e Santos FC: O Maior Espetáculo da Terra, segundo você mesmo qual delas te deu mais satisfação pelo resultado final?


Bem, o Time dos Sonhos, lançado em dezembro de 2003 pela Editora Códex, foi o resultado de dez anos de pesquisa (ainda não havia a Internet). Um livro de quase 500 páginas que teve quatro edições, algo raro no Brasil. O curioso é que eu já estava cansado de escrever o livro e tinha decidido que o terminaria no final de 2002, qualquer que fosse a classificação do Santos no Campeonato Brasileiro. Pois os deuses do futebol parece que me ouviram e fizeram o Santos ser campeão, contra todos os prognósticos. A sensação foi incrível. Mas o livro mais importante foi o Dossiê que em 2011 unificou os títulos brasileiros e impediu que a melhor geração de jogadores brasileiros fosse esquecida, ou subvalorizada. Também tive a honra de escrever o livro oficial do Centenário do Santos (100 anos de futebol arte) e a biografia de Pelé (Segundo Tempo, de Ídolo a Mito), obras lindíssimas produzidas pelo editor de arte Clero Junior e pela Editora Magma.

5° – O que representou para você o reconhecimento por parte da CBF da unificação dos títulos Brasileiros de Santos, Palmeiras, Bahia, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense, a partir do Dossiê escrito por você e José Carlos Peres?


Representou justiça, apenas isso. Quando terminou a primeira Taça Brasil, a de 1959, cuja final foi jogada em 1960, eu já acompanhava e entendia de futebol, ouvia no noticiário do rádio e lia na imprensa que o Bahia tinha sido o primeiro campeão brasileiro, tanto é que foi o primeiro representante do Brasil na Taça Libertadores. Então, a pesquisa que fiz só comprovou o que eu já sabia: o Brasil tem campeões brasileiros de clubes desde 1959. Seria muito injusto apagar justamente essa fase ouro do futebol brasileiro.

6° – Você foi precursor deste formato de blog especializado em assuntos relacionados ao Santos FC? Quando e como surgiu a ideia da criação do blog?


A ideia do blog foi do Victor Queiroz, um rapaz formado em marketing que trabalhava na subsede do Santos em São Paulo. Como eu já tinha escrito livros, participava de alguns programas esportivos e cheguei a ser comentarista de futebol em emissoras de rádio, ele achou que eu poderia ser mais atuante na mídia social. Fez meu twitter e deu ideia do blog. No começo, alguns me perguntavam: mas você terá assunto para falar do Santos todos os dias? Pois eu cheguei a fazer quatro posts diários. Respondia a todos os leitores, sorteava livros, Dediquei-me muitas horas ao blog. E perdi várias noites de sono, pois descobri que de madrugava entravam uns santistas do Japão. O blog foi muito útil no trabalho de unificação dos títulos brasileiros. Ele também me ajudava a divulgar e vender meus livros.

7° – Em 2017, seu blog fez campanha para a candidatura de José Carlos Peres à presidência do Santos FC. Peres foi eleito, mas dois anos depois sofreu impeachment. Ainda em 2018, em meio a fortes críticas à gestão, você encerrou as atividades do blog. Esse encerramento teve relação direta com o momento político do clube e a pressão exercida pelos torcedores, que cobravam pelo seu apoio a José Carlos Peres?


Eu sonhava manter o blog como um canal direto entre o torcedor e a direção do Santos, mas em pouco tempo o blog foi inundado por pessoas que só entravam para criticar. Sou um sujeito tranquilo, mas quando percebi que a intenção dessas pessoas era só tumultuar, gerando discussões, perdi a motivação para manter o blog. Até porque o trabalho para pesquisar e manter viva a história do Santos exigia bastante tempo. Eu assumi como coordenador de história e cultura do clube, dirigindo o Centro de Pesquisa e o Memorial das Conquistas do Santos.

8° – Você se arrepende de ter apoiado a candidatura de José Carlos Peres no pleito de 2018?


Das opções que tínhamos na eleição de 2018 – Modesto Roma Junior, Andrés Rueda e José Carlos Peres –, eu considerei o Peres a mais viável. Eu já o conhecia há anos e ele foi o mentor do trabalho que gerou a unificação dos títulos brasileiros. Lembro-me de que foi um período muito conturbado, com muitas dívidas, um caos (quatro técnicos já demitidos continuavam recebendo mensalmente do clube). Mesmo assim, o time montado por Peres foi vice-campeão brasileiro e vice-campeão da Libertadores e nunca correu o risco de ser rebaixado. Mas participar da política do clube foi muito desgastante e me distanciou de muitos santistas que não concordaram com meu apoio ao Peres.     

9° – O descenso no Campeonato Brasileiro de 2023 foi uma tragédia anunciada ou poderia ter sido evitada?


Infelizmente, uma tragédia anunciada. Rueda, que não entende de futebol, flertou com o descenso o tempo todo. Um dia ele veio, para nossa profunda tristeza.

10° – Qual sua expectativa para este time de 2025, um time que vem de uma série B e tem o retorno de Neymar Jr?


A expectativa é a de que o time se firme, se equilibre, ganhe pontos suficientes para se manter na Série A e, se possível, ficar entre os dianteiros. O clube vive uma fase de transição, ou salta para ocupar o seu lugar na história, ou poderá amargar novas decepções. É preciso pensar na instituição em primeiro lugar. Quanto a Neymar, seu retorno foi positivo para o clube. Torço para que se recupere plenamente e ainda jogue mais alguns anos de ótimo futebol. Ele é um ótimo garoto e um enorme santista.

11° – Qual nota você dá para a atual gestão de Marcelo Teixeira a frente do clube até o momento?


Ainda é cedo. Antes de sabermos quanto foi gasto para montar esse elenco e quanto será gasto com as rescisões de contrato, não se poderá falar de eficiência administrativa. Quanto ao time, tem potencial para ter um ataque forte. Precisa reforçar a defesa e o meio-campo. Talvez mudanças táticas resolvam. De qualquer forma, sou grato a Marcelo Teixeira por ter me escolhido para tocar as festividades do Centenário do Santos, em 2012. Considero-o uma pessoa educada, que ama o Santos e quer o melhor para o clube. Então, obviamente, torço muito para o seu sucesso como presidente.

12° – Como jornalista e torcedor, como você vê o Santos hoje e o que você espera para o futuro do clube? Você é a favor de que o clube se torne SAF?


Como disse, vejo o Santos em uma fase de transição. Fiquei muito feliz quando fui com a família para Santos no último sábado e visitamos o Memorial das Conquistas e o Museu Pelé e pudemos perceber como a história do Santos ainda atrai pessoas de todo o mundo. O Santos é Cult, tem uma imagem imortal ligada à arte do futebol. Quem ama o futebol, ama o Santos. Para o futuro eu espero um Santos competitivo, protagonista, sempre. Sonho com um clube com um estádio maior e moderno, um elenco e um faturamento digno de grandes clubes europeus, uma torcida cada vez mais e mais empolgada. Bem, esses são os desafios de quem se dedica ao Santos. 

13° – Quais são seus projetos e lançamentos futuros?

 Sempre há muitos projetos. Um clube de tênis fará 100 anos e talvez eu seja o escolhido para escrever o livro. Também estou pensando em escrever a biografia de Toninho Guerreiro, o que acham? Um artilheiro sensacional que foi injustiçado e teve um final um tanto triste. O livro faria justiça a esse atacante enorme. Também penso em romances, mas aí não tem nada a ver com futebol. 

14° – Para fechar a entrevista, deixe uma mensagem final para a nação santista.


Eu estava na fila para entrar no Memorial das Conquistas, sábado, e me encontrei com um pai também santista e jornalista, como eu. Lá estava ele com seus filhos pequenos vestidos com a camisa do Santos, como meus netos. Disse-me que está difícil manter a preferência dos pequenos pelo time em um período tão escasso de vitórias, como o que vivemos. O que eu disse a ele é que o Santos está acima dos resultados do dia a dia, a paixão por ele transcende, vai além. Se uma criança não entende, ou não sente isso, nada se pode fazer, pois mesmo o melhor time do mundo terá fases de poucas vitórias. Enfim, o Santos já fez o suficiente para que o amemos por toda a vida. Devemos ser gratos por ter um time como o Santos para torcer. Só isso.

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